segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Cabochard de Grès


Dizem que Madame Grès pensou em criar o perfume  Cabochard quando viajava pela Índia em busca de conhecimento e inspiração, no longínquo ano de 1959. Que surgiu de suas caminhadas pela praia, de seus solilóquios de solidão, com o frescor matutino e o perfume dos sândalos convivendo com variegadas flores.Assim , m verdade, havia nascido Chouda, o perfume florido e agradável criado pelo jovem perfumista Guy Robert que por não atender aos quesitos de sucesso na época, reduziu-se a uns poucos frascos. Cabochard porém remava a favor dos chypres de sucesso da época e vingou.A perfumista escolhida para esta nova  criação foi Bernard Chant, também criadora do famosos Aramis e Aromatics Elixir que muito tem de Cabochard.
 Vejo em Cabochard um perfume assaz citadino, quase confidente de uma francesa arrojada e resoluta. O nome "Cabochard" já muito lhe traduz. Vem do caboche. Teimoso, em francês. Há nele então a palavra obstinação. Remete ao arrojado e a perseverança, e a um mundo ainda elegamente clássico, do fim dos anos 50.  Pleno de orgulho e altivez.E a beleza do porte aristocrático de mulheres que se espelhavam em estupendos chypres de inequívoca grandeza
O frasco primevo,simples e acompanhado de um laçarote sóbrio e cinza,refletia o minimalismo e a simplicidade desejados pela Maison. A versão atual traz agora um belo laço negro, reluzente como cetim, adornado um frasco longilíneo e elegante
Algo nele me faz lembrar  escuridão. Há sabedoria na austeridade daqueles que vivenciaram o consciencioso pós-guerra. Não é um perfume triste,mas há nele uma vaga melancolia. É um perfume fundo e sábio. Usá-lo parece um aperitivo para a inteligência.É seco como um gole de puro whisky. É nublado como a fumaça de um charuto.É sutil como rosas recém colhidas.E traz a beleza de negras luvas de pelica
De fato, acredito que não são todos os que vão gostar dele, mas esse perfume tem poder de comoção muito grande. Há nele uma imantação que considero inexplicável, coisa que só grandes clássicos que conseguiram desnortear as regras do tempo obtiveram.Obedece a certo padrão vintage inflexível dos chypres agrestes e sofisticados. Mais ei-lo,aqui, agora  suavizado, mais verde e menos animálico, obstinadamente. Atravessando gerações com sua elegância seca e rasgante. E tão digno de uma dama como outrora.
Há quem identifique nele uma imagem subjugadora arquetípica,por sua presença imensa de couro a partir do isobutil quinolina(Composto que cria o cheiro de couro com acentos verdes, o mesmo do Bandit de Piguet). Dá sim uma sensação meio dominatrix. Mas para mim esse perfume pertence a mulheres seguras assim como  a homens finamente trajados. Há nele amável ambiguidade.Um tanto de androginia. Imagino Marlene Dietrich em seus melhores dias, de terno e charuto na mão. Lauren Bacall com seu inseparavel cigarrette.Assim como imagino Grace Kelly tal qual uma grega deusa, envolta em faixas e debruns, com aquele altivo semblante e lindos ombros nus. É um perfume para fortes, com toda a sedução e concupiscência que essa ideia faz emergir da sapiência, sucesso e da força. Sim, é um perfume charmoso, cheio de vigor.



Sua abertura é floral e fresca, com gálbano, limão e flores que se pretendem bastante gentis, como a rosa búlgara , o jasmim  e o ylang ylang, mas logo são subjugadas por camadas e camadas de uma adorável pelica, com ares de curtida por fumeiros. Um cheiro ocre, íntimo e sensual de couro,  quase perverso, com um toque de acidez de limão, fazendo uma irmandade com nossa própria pele.É quase calmante aspira-lo nessa fase do perfume. Parece acolhedor.E todo seu poder chypre  se revela formosamente com o fim musgoso, persistente como um mofo, sussurrando entre um seco vetiver que da  sensação final verde e terrosa, acompanhado das flores que aparecem ligeiras e indulgentes.E o couro lentamente vai se laceando, até nos abandonar.. E é daqueles que deixam saudade.
E consegue ser sublime, mesmo sem qualquer açúcar.

É um perfume que parece se costurar,em camadas de leveza, descortinando forças. Eis aqui o coração de Madame Grés , a possibilidade de perscruta-lo com sua  paciente habilidade para drapear acetinados tecidos, talhando a curva de cada corpo.Mais escultora que costureira.Há em Cabochard  o rigor, a obstinação, a precisa justeza assim também como a leveza de um jersey. É mais que um perfume, é uma tessitura. Não é uma simples dobra, é um drapeado. É quase uma escultura,um sopro no tempo, uma dobradura. Lá, deixa sua marca.
Sobre sua longevidade: Duradoura
Sobre sua sillage:Forte




fotos fonte: fragrantica.com
http://www.thefashionhistorian.com/2011/08/madame-gres.html

quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Resenha perfume My insolence Guerlain






A resenha de hoje é do perfume My insolence de Guerlain.
 É o que chamaria de Flanker "rosado" do perfume  insolence. Para os que acham sua violeta com bagas e tonka algo demasiado, tonitruante como eu, é um belo e acolhedor refúgio. Sem dúvida menos dramático, mais equilibrado.  Prefiro My insolence,por certo.
My insolence é doce e macio e embora a violeta não esteja listada  nas notas há uma sensação violácea e polvorosa ainda.O aspecto vinílico-boneca vitoriana aqui é reforçado. Daí a sensação de perfume princesa, perfume boneca. É certamente um perfume adorável para as adolescentes.
Há algumas menções logo que o sentimos  a perfumes como Shalimar parfum initial, l'heure bleu, Après l'ondée, La Petite Robe noire. Sem dúvida o dna da marca, a "guerlain-ish" sobrevive. Um "je ne se quois" do acorde guerlinade sempre presente.
Aqui temos o amável cheiro de framboesas a ponto de bala sendo suavizados por uma flor de amendoeira redonda. O resultado é uma bala delicada, um pó açucarado. A abertura pode parecer agressiva, xaroposa e medicinal com a tonka e o patchouli aparecendo.Embora tais notas de fundo agridam um pouco inicialmente ,no fim estão uma base sólida e rente. O resultado final é abaunilhado e empoado. Doce e amendoado.
Mas seu corpo é realmente dado às framboesas. O amor às frutas vermelhas da casa Guerlain ja se faz clássico.
A duração é excelente. Dos que ficam o dia inteiro. Projeta razoavelmente na primeira hora em minha pele.
My insolence é Gourmandice terna. Das melhores. Notas ricamente texturizadas. Seduz sem perder a ternura. Dos que um dia gostaria de repetir(o meu acabou).

Foto: fonte fragrantica.com.br

segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Coleção Barista- Daniel Barros: Rosa Libre



Chega minha hora de “bebemorar”a empolgante Coleção Barista lançada  por  Daniel Barros @fragcoach. Das doze fragrâncias inspiradas em bebidas inicio minhas impressões com Rosa Libre.
A ideia da mescla entre a rosa com a efervescência inebriante e cítrica do drink Cuba Libre me agradou desde o princípio, quando pude  também ser avaliadora da criação dos perfumes. Sabia que das mãos talentosas e criativas de Daniel sairiam coisas realmente bacanas.
A impressão desde o início foi: Ah!fofura delicada e borbulhante!Aquela sensação de soda spicy, em verdade a nota de coca cola. Uma fagueira nota de coca cola, substanciosa como poucas. Não aquela sensação  de drink esmaecida  em Youth Dew, que é escurecida pelas  propriedades animalesca do perfume.  Está mais para a impressão que tive da versão mais bonita de Opium que senti, que é o  Opium Fraicheur D’orient.  Um Opium  fresco  e vaporoso, com um cheiro de coca quente.E em Rosa Libre essa sensação é coroada por um monte de rosas doces, dulcíssimas. Rosas meladas. Juvenis aqui.  Frescas e com acompanhamento cítrico leve. Há também um quê de gengibre ralado, muito gentil.Ar de moças. Esse perfume se tornou bastante cativante para mim. Uma experiência sensorial maravilhosa. Sua mistura de rosas e coca tão doce e  singela me remeteu a  história das “Coca colas” em Fortaleza. Elas eram as moças que na década de 40 procuravam  os rapazes  militares americanos  que vieram fazer patrulhamento nas Costas e formar bases aéreas na época da Guerra e que foram apelidadas de “coca colas” por estarem sempre bebendo  uma garrafinha de coca em  êxtase  ao lado dos belos  rapazolas americanos . As imagens e histórias da época sempre mostram cenas de  moças dançando e paquerando ao som vibrante de  Swing ou mambo direto de Havana, com seus cabelos ondeados  a La Veronica Lake, unhas half-moon e meias de nylon riscadas. E de repente vem-me a mente Rosa Libre com esse cheiro de rosas doces alcoólicas com coca cola. Imagino essas moças cheirando mais ou menos assim, com ar  de rum e cola efervescentes,  doçura melada de rosas e cítricos,  fundo resinoso e quente por longas horas dançantes  nesse esquecido pedaço da história. E como dura esse perfume, e como dura...




 Rosa Libre é ao mesmo tempo gustativo e fresco, vibrante e sexy. As notas de coca cola e rosa não se fragmentam, pelo contrário. Formam esse ar de sonho coquete. É retro e atual ao mesmo tempo. A base é sólida, quente e envolve a pele como uma meia de seda.  Há um toque de musgo  invulgar para dar profundidade e estilo.  Faz a linha dos chipres  florais revisitados, pautado no patchuli levemente terroso que se envolve com o mel das rosas e o lado spicy da cola.
A duração é longa. A projeção é expansiva. O resultado convidativo e curioso. De uso versátil, em paz com o clássico e o moderno. Para a chegada e a despedida.
Um cheiro belíssimo, sem dúvida.E com uma altiva qualidade superior. Está no meu coração.


Saiba mais sobre a coleção barista aqui no site ego in vitro

https://tokdehistoria.files.wordpress.com/2013/09/americans-in-natal-19.jpg?w=474

sábado, 13 de fevereiro de 2016

Top 5 :perfumes importados favoritos

Resenha em vídeo do meu Top 5:perfumes importados favoritos.

A resenha sobre eles você encontra nesse post aqui, com o acréscimo de uma resenha que faço agora do querido Ô de Lancôme,  que está no meu top 5 perfumes importados preferidos(na verdade são 6 perfumes!)

Ô de Lancôme





Criado em 1969 em clima de "Peace and love". Guarda no seu coração verde, luminoso e fresco as ânsias de liberdade, a sensação de sol, lume, a fugacidade da juventude. Perfume filho de seu tempo é pura irmanação com a natureza e o otimismo juvenil. Linda nota de madressilva, com alecrim o mais feliz possível.Muito manjericão, citrinos fresquissimos, musgo e vetiver terrosos para nos sentirmos em pleno campo aberto junto aos hippies chics. Dura muito na pele refrescando o dia todo. Tem um quê de Diorella, Vent Vert e Cristalle de Chanel. Mas o Laranjeira em flor da natura é seu filho mais bonito.

Sou completamente apaixonada por esse cheiro tão tônico, citrico verdinho e radiante que me envolve sempre.

Resenha em video dos meus top 5 perfumes importados favoritos


Espero que gostem de meu top 5 perfumes importados favoritos!


quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Les Égocentriques de Ego In Vitro





Senti-me bastante afortunada de ter sido uma das blogueiras escolhidas para resenhar a criação "Les Égocentriques"  da Ego In Vitro e tentei dar a este trabalho precursor em terras brasileiras uma atenção respeitosa como lhe é merecido.
Trata-se do trabalho árduo do caro Daniel Barros metamorfoseado em 9 fragrâncias inspiradas no Eneagrama das Personalidades que também se compõe de 9 personalidades . As fragrâncias vêm em em embalagem esmerada e além dos 9 frascos  traz um décimo vidro vazio que é um convite ao além. Explorar e recombinar conforme nos  parecer melhor.Corajoso convite ao auto conhecimento numa exploração dos sentidos.
A proposta é que os 9 cheiros funcionem sozinhos combinando-se também entre si. Confesso que fiquei absolutamente entusiasta da proposta e deixe-me levar pela tentativa de percepção de notas, saber quais me conquistariam mais e por fim me arriscando em algumas combinações, conforme o proposto.As possibilidades são ad infinitum. Nossos egos mandam. Nossas escolhas são as que o ego emanam. Descobri que sim, egos podem ter cheiro. Mas isso é assunto que Daniel Barros nos falará em breve em seu novo livro.
A Ego in Vitro há muito lida com a ideia de assinatura olfativa e relacionamento entre ego e cheiros. Nesse sentido acredito que em Les Égocentriques há uma oportunidade única de brincar com o olfato, conhecer melhor o que mexe conosco e por fim a oportunidade de criar misturas que resultam em novos perfumes.
Há também imbricada a ideia do artesão, do artifice. De alguma forma o perfumista quando nos entrega algo dá um pouco de si em cada criação . E nós também brincamos de perfumistas ao fazer as escolhas e misturas conforme nosso desejo. É nobre a sensação de ver o Daniel Barros perfumista florescer e saber que em tantos momentos, ao meu ver, saiu-se sobremodo bem e inspirado.  Estamos então todos juntos nesse oficio solitário  e sensível de cheirar.Trata-se também de uma oferta. Um elo perfumista-perfume-receptor e os sentimentos nessa relação imbuídos.
As fragrâncias  vêm em 9ml em concentração eau de parfum  e sozinhas tem vasta capacidade de encantar. Parecem criações de uma alma vocacionada que tende bastante a crescer.E falarei cá um pouco a impressão de meu ego sobre cada um deles.

1) Cyrus. Leve e Fagueira. Citrinos doces, alegria de alecrim.  Vetiver terroso.Fundo seco, musgoso para lhe dar uma melhor duração e serenidade. Um ar de colônia chique. Fez-me sorrir pois é o tipo que gosto. Senti alguma lembrança de ô de lancôme e Acqua di Parma.

2) Tutti. Tutti Frutti.  Intenso. Duração extrema. Doçura pirulitada a invadir as narinas. Violetas pungentes e empoadas. Bagas e bagas vermelhas dulcíssimas. Cognac que aqui fica xaroposo.  Na linha de Insolence, Guerlain. Lúdico. Sexy.

3)Quinn. Floral clássico e sutil. Bouquet lânguido e amoroso. Jasmim. Ylang Ylang. Flor de laranjeira. Couro gentilissmo. De uma beleza encantadora.  Foi um dos que mais me demorei a apreciar.  Lembrou-me algo vitoriano, de beleza esmaecida. Um cheiro impressionista. Cheiro de bailarina de Renoir.


4)Renee. Floral verde de fim imprevisível. Um perfume que chamei de desequilíbrio harmonioso. A alma inicial é tranquila, herbácea, transparente, aldeídica.  Iris e gálbano verdinhos. O coração é vivo com flores e cio. Flores classudas, vistosas. O fim é uma cama onde arde uma civeta naturalíssima, incandescente. Dos meus preferidos, pegou-me em cheio.

5)Jiang. Claramente um dos meus preferidos(não sei dizer qual o preferido, no fim). Mas está entre ele, Renee, Quinn e Kaleb. Jiang é uma lavanda límpida e macia com fundo de almíscar branco de lavor e laivos secos que por vezes me remetem a orris ou vetiver. Para os amantes de perfumes funcionais e frescos é uma bela criação. É um perfume minimalista, delicado e dobrado calmamente. Um perfume que desperta paciência.

6) Birke. Um coração cowboy, diria. Uma cavalgadura, quase. Resinas. Madeiras.Couro. Feno. Musgo. Duração ad aeternum. Apesar de curtir um couro dominatrix a la cabochard ou musgos mofadíssimos com cara de casarões bolorentos a la Eau du soir, para mim Birke soou agressivo demais.  Preferido do marido!

7)Kaleb. Kaleb foi o amor sem aviso. Talvez uma bebida diária me levou até ele: café. Amigo de todas horas.  Amigo de fé de minha insônia  leitura e namoro. O cheiro do hálito do marido.Ou o amor pelos mais variados licores da avó que os deixava la em garrafas horas e horas se adensando em mágica licorosa. O licor de cacau  gotejado de baunilha de Dona Lourdes. Kaleb tem cognac, café, baunilha leitosissima, cacau. Gourmand que me pegou pelo coração, eu a que não sou fã de gourmands. Um que de rebelle.

8)Sasha. Esse foi o que mais tive dificuldade de identificar as notas, não sei o porquê.  Identicaram-no como spicy. Mas entendi mais cítrico e fresco com fundo incensado. Acho que nos perdemos, eu e ele. O gengibre aparece menos em minha pele. O que sobressalta em mim é a nota de sálvia  e um fim incensado, doce e resinoso. Tem também notas de incenso, mirra e elemi.

9) Greet. Este achei corajoso. Lembrou-me labuta . Dura faina. Descanso. Sombreiro. Terra e  mãos sujas. Algo agreste. Cheiro de mãos que acabaram de arrancar uma cenoura cheia de raízes. Cheiro verde, levemente doce, terroso. Cheiro de trabalhadores da terra que depois se reunem para tomar uma cachaça de rolha. Sim, ela, cachaça. Um salutar cheiro de nossa amada. Alcoolico e terreno. Achei Greet polêmico e ainda o acho bastante curioso. Mas não sei se o usaria.

E essa foi minha intuitiva e adorável caminhada pelo grande trabalho de Les Égocentriques. Convido vocês também a se aventurarem. Posso dizer que vale a pena. Vamos deixar que nossas paixões egóticas possam também ter cheiros:
Mais sobre Les Égocentriques e Ego in vitro aqui.

http://egoinvitro.com.br/
http://egoinvitro.com.br/egocentriques/

terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Verão: sombra, água fresca e o meu perfume. Resenha do perfume Les nuits d'Hadrien, de Annick Goutal.





     Na rodada do mês com as versões dos blogs de perfumaria brasileira sobre cheiros de veraneio, resolvi homenagear um perfume cuja aquisição foi por mim bastante almejada. Fiz uma escolha assz pessoal de um cheiro "sapiente e salutar" para o verão, já que o escolhido é o que podemos chamar de "perfume literário". Falo de Les Nuits d'Hadrien de Annick Goutal ,criado inspirando-se nas memórias do sábio Imperador Adriano , da dinastia nerva-antonina, o pai da Palmyra Adriana,  "the Venice of the sands"(agora duramente destruída, desfigurada pelo ISIS, conto com o coração confrangido). 
    Adriano foi propagador do helenismo, arquiteto de talento e mesuras, conciliador, filósofo estoico, ora permeado pelo epicurismo, amante das paisagens, do temperamento grego e de suas influências no sul da Itália.
    O perfume é inspirado numa experiência salutar, no desfrute de um  céu estrelado, sob brilho lunar numa  noite  de veraneio em plena Toscana, quando Adriano derrama suas vicissitudes, beleza e inteligência, ao lado de seu amado  Antínoo,  tendo seu amor inspirado desde livros como "Memórias de Adriano" de Marguerite  Yourcenar  a poemas como o de Fernando Pessoa sobre Antínoo.



     É um perfume eivado de história, e como toda história, nos é imposta para que possa ser apreciada. Deste modo sentir Les Nuits D'Hadrien(As noites de Adriano) vai além de se refrescar com seu aspecto aromático e tônico; é adentrar nas frestas dessa história que, cheirando-a, parece transponível e próxima.
     Ao sentir o perfume cítrico aromático criado em 2003 por Isabelle Doyen e Camille Goutal, 
vem-nos o mar de Capri,  o mediterrâneo, os citrinos que encantam os amantes, que perfumam seus corpos. Vem a brisa marítima, a embriaguez do limoncello ,do licor de alcaravia,  do gim zímbrico.Que noite fresca, cítrica e mentolada é o perfume Les Nuits D'Hadrien! E como é possível aspirar nele  um pouco da inteligência e civilidade estupenda de Adriano! Ah! O seu gosto pelo simples(que é tão complexo)! Seu naturalismo benfazejo. O amor pela arte clássica, conservadora Um homem capaz de valorizar o passado,  restituindo-o, como fez com o Panteão. Um profundo propagador do Philhellenism.
     O amor  de Adriano ao ar fresco,  a cultura clássica, aos jardins e pomares foram eternizados em obras como a Vila Adriana em Tivoli, representação de sua incansável admiração pela estética, assim como  também em sua  Palmyra(que depois dele, se tornou para sempre a Palmyra Adriana, a menina de seus olhos, o magnífico oásis de beleza e cultura no Deserto) e em construções como o Templo de Vênus e Roma.
      Há uma qualidade que se pretende esteta nas noites de Adriano. É uma fragrância arbórea, estrelada, contemplativa. Parece que Adriano olha os céus com seus olhos clínicos de um homem que amava a astrologia. Há o espirito desbravador e livre.

Hadrian  villa ruins



Page: Hadrian Visiting a Romano British Pottery Artist: Sir Lawrence Alma-Tadema Completion Date: 1884 Style: Romanticism Genre: history painting Technique: oil Material: canvas


Teatro Maritimo. Vila Adriana.



        Considero esse perfume comunicativo, quase epistolar  tal como pretendeu Marguerite Yourcenar em seu livro "Memórias de Adriano", em que faz do Imperador um mestre a segredar a seu sucessor, Marco Aurelio, dizendo-lhe de glórias  e tragédias  aqui tão paisagísticas e bonitas. Falando-lhe de seus amores ao passadismo, do culto ao helenismo e de sua paixão profundo pelo tão belo e para sempre jovem Antínoo, eternizado  após sua misteriosa e antecipada morte como um Deus menino por seu amado Imperador.
     Os perfumes de Annick Goutal são quase sempre sentimentais e missivistas. De alguma forma, subordino-me ao seu chamado, enverado-me nas qualidades interpretativas do perfume, que tirando as notas, são sempre  considerações sumamente pessoais.
     A noite dos amantes, pois, está para mim acessível. Está tragável como um cheiro. É entusiasta como um cipreste conífero entoando seus ventos. Um vento mentolado. Fagueiro.
Está pronto o limoncello, adoçado pelo langor das bergamotas. Que cheiro doce de citrinos pode ter uma memória. E de bebidas e bebidas salutares os amantes se saúdam. Junta-se o quê do zimbro, baga arguta, tônica, temperada. Remoça-se Adriano com seu jovem Antínoo. Para sempre se perfumam e se avizinham.

      Les nuits D'Hadrien propõe uma noite álacre, cheia de argucia e vitalidade, eivada de alegria dada pela força cítrica,  com frutos extremamente naturalistas, com ar bastante transparente e fresco, com força nutriz, como o sábio Adriano venerava. Para Adriano nada melhor que o fruto em estado puro. Nada poderia ter mais cheiro da imortalidade que um fruto fresco. 


"Comer um fruto é fazer entrar em si mesmo um belo objeto vivo, estranho e nutrido como nós pela terra.” 

    O perfume tem  o cheiro da abundância nutriz do sul da Itália,  com seus frutos e condimentos, a alegria dos licores e limoncellos temperados com alcaravia(cariz ou kümmel, que lembra um tanto erva doce) e zimbro dos festins, os pomares verdejando com o manjericão, adoçados por baunilhas em fava.
    Um cheiro extremamente aromático ,com forte pendor de ciprestes prolongados pelo lado anisado da alcaravia e do zimbro vai se construindo.
    O resultado do perfume é rústico, naturalista , vocacionado para a meditação. Cheio de simplicidade elegante.Na versão eau de toilette não perdura mais que cinco horas, o que é normal para um cítrico aromático.
   Aspiramos pois a sensação incrível de se emaranhar na memória fresca  de ervas, frutas e ciprestes, uma experiência ostensiva, quase sacra, resgatando as memórias sublimes das noites do sábio Adriano.
   Pena que dure pouco esta sensação. Mas é um laivo de frescor senti-lo. De beleza vívida, de reparo de ruínas. Floresce um pálido amor.  Renasce o amor ao belo. O amor do grande arquiteto e esteta Adriano pela vida.  Vênus Felix se exibe, em seu templo eterno de beleza. Antínoo,  belo, nos sorri. O Pantheon mostra-se em seu vigor.

antinous pio clementino


Venus Felix.


Palmyra, por instantes, é novamente a Veneza das areias, se arboriza com nossas narinas. Renasce das ruínas.





Meu pranto para Palymira. E o pranto de Pessoa, para Antinoo.


..."Antinoo está morto, morto para sempre,
Está morto para sempre e todos os amores lamentam.
A mesma Vénus, que de Adónis foi amante,
Ao vê-lo redivivo então, e de novo morto agora
Oferece o renovo de seus antigos soluços: que somados sejam
Ao sofrimento de Adriano.

Apolo está triste: o ladrão
Do seu corpo branco arrefeceu para sempre.
Nem pacientes beijos na rosa do mamilo
Sobre o sítio mudo do bater do coração, lhe devolvem
A vida para abrir-lhe os olhos, fazer que sinta a sua
Presença no correr das veias, firme fortaleza do Amor.
Nenhum calor ficou de outras suas calorosas exigências.
Não voltará a ter sob a cabeça as mãos,
Do oferecido corpo que outras mãos imploram.

A chuva cai; ele está deitado como alguém
Que esqueceu todos os gestos do seu amor
E fica deitado à espera do seu cálido regresso.
Mas todas as suas artes e jogos estão agora com a morte.
Nenhum calor pode demover este humano gelo;
Nenhuma chama pode acender estas cinzas de um fogo."..

Fernando Pessoa.

Verifiquem as demais postagens dos blogs de perfumaria com o tema de verão sombra e agua fresca e um perfume!

Lu em floral e amadeirado
Carla em Pimenta Vanilla
Di em A louca dos perfumes
Pri em Parfumee 
Fotos fontes:http://paleonerd.com.br/2015/06/11/adriano-e-antinoo-todo-mundo-ama/

domingo, 6 de dezembro de 2015

Tag Respondendo uma seguidora sobre perfumes!

Tag Respondendo uma seguidora sobre perfumes(por Rosiane Andrade).

Perfumes citados: Romance Ralph Lauren,  Chanel n. 5, Rive Gauche YSL, Tommy Girl, CK one Rumba Passion, Kaiak feminino, Tabu de Dana, Morena Flor Avon, Far away Avon


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